Hoje é um Bom Dia


Você sabe que o sujeito é um homem de caráter quando ele aparece em rede televisiva nacional com uma toalha no ombro

Luiz Carlos Alborghetti, nascido em algum buraco desconhecido do glorioso estado Paraná, foi uma das maiores contribuições do estado à comunidade nacional além da Ponte da Amizade (que permite à classe média brasileira o acesso PS2s contrabandeados com conforto e segurança).

Sua carreira como personalidade semi-famosa que berra na frente de uma câmera de TV começou em 1979, quando o programa Cadeia, uma digivolução do programa de rádio de mesmo nome, estreou nos televisores paranaenses. A marca registrada do apresentador é a exasperação quase efeminada que este exibe quando reporta notícias de natureza violenta. Um estuprador não pode enforcar sua vítima com um cadarço e em seguida atear fogo ao corpo sem que Alborghetti berre, xingue, ataque sua mesa com outros objetos inanimados e sue aproximadamente 20% do seu peso corporal, fazendo da sua toalha um item indispensável da indumentária do apresentador. Em seus ataques de fúria, o apresentador distribuia xingamentos aleatórios a qualquer pessoa levemente associada aos criminosos cujas peraltices ele reportava, e declarava sem cerimônias que sentiria muito prazer em tortura-los pessoalmente. Os xingamentos se estendiam até mesmo pro cinegrafista (amador) do programa, nas frequentes ocasiões em que este não conseguia focalizar a imagem em tempo.

Em 1986 Alborghetti decidiu que esse papo de assar bandido na brasa ao molho madeira fazia muito sucesso com a classe média pomposa que acha que todo e qualquer ladrão de galinhas merece ter seus braços arrancados e cozidos na frente dele, e ele armou sua campanha política pra deputado estadual justamente em cima disso. Ele foi reeleito em 1990, e ao contrário do que se esperava, sua ficha parlamentar indica um inesperado número de 0 bandidos grelhados na chapa.

Em 1992 o Estado do Paraná achou que não era justo manter a posse do humor não-intencional exclusiva aos habitantes da roça paranaense e resolveu nacionalizar o negócio. O Programa Cadeia passou a ser exibido em rede nacional pela CNT, que em retrospecto é a única forma que podemos perdoar o Paraná por anos mais tarde ter lançado o grupo sertanejo Teodoro & Sampaio ao estrelato, levando a insuportável Anna Júlia a infectar outro gênero musical. Muitos acadêmicos no entanto concordam que o country nacional é um estilo que morreu na década de 80 de qualquer forma.

A carreira política de Alborghetti foi consideravelmente desinteressante, o que talvez o tenha permitido achar tempo pra continuar as gravações de seu programa. Em 2002 ele tentou se recandidatar, e perdeu a primeira eleição em quase 20 anos de um histórico político marcado por vitórias nas urnas.

Isso deve ter realmente chateado o cara, porque em 2006 ele achou que xingar as mães de criminosos em rede nacional e incitar a população a linchar qualquer trombadinha que tivesse o azar de esbarrar com um espectador de seu programa não era subersivo o bastante. Assim, Alborghetti lança o CADEIA SEM CENSURA. O programa ficou no ar por míseros seis meses, que foi o tempo que demorou pros patrocinadores perceberem que aquele personagem (que surgiu no finzinho da década de 70, lembrem) tinha ficado chato nos primeiros 4 minutos do primeiro programa.

Sem dinheiro pra pagar as contas do programa, Alborghetti se viu sem outra alternativa a não ser se transformar em uma webernet celebrity. Seu programa é agora estritamente online, e eu ainda não tive a oportunidade de assisti-lo mas se eu entendo alguma coisa sobre progressão aritmética, a essa altura do campeonato o tal programa deve se resumir ao Alborghetti gritando pelado na frente da câmera, arrancando os poucos fios de cabelo que lhe restam, e cagando em cima de photoshops de notórios criminosos sendo imolados em praça pública.

Alborghetti pode não ter sido um político de destaque, provando mais uma vez que é muito mais fácil falar que tá tudo errado do que realmente usar seus poderes pra fazer uma diferença. Mas como apresentador ele fez escola e gerou uma multidão de clones – Ratinho, Leão, Wagner Montes, Datena, etc e tudo mais. Suas contribuições pro ramo do “repórter injuriado” se estendem por três décadas e tornaram seu nome reconhecível em qualquer local da netsfera.

Pra quem ainda não o conhece, os vídeos do cara estão aí à sua disposição no youtube, com títulos que não deixam dúvidas sobre o engajamento do apresentador em temas de importância social inegável, como “Alborghetti versus Emos” ou “Alborghetti e a Madame do Shopping“.

setembro 13, 2007 - Posted by | Uncategorized

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